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Terreno instável e trilha perigosa: o que explica o acidente fatal de Juliana Marins no vulcão Rinjani

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Séculos de explosões transformaram o solo do Rinjani em um terreno instável e traiçoeiro

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O cenário impressionante do Monte Rinjani, na Indonésia, atrai turistas do mundo todo. Mas por trás das paisagens espetaculares está um terreno extremamente instável, moldado por séculos de atividade vulcânica — e que se revelou fatal para a brasileira Juliana Marins, de 26 anos.

Juliana caiu de um penhasco enquanto fazia a trilha até o cume do vulcão. Presa por quatro dias em uma encosta de difícil acesso, ela foi localizada por um drone, mas não resistiu. Seu corpo foi encontrado sem vida na manhã de terça-feira, após dias exposta ao frio, sem comida, água ou abrigo.

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A área onde ocorreu o acidente é formada por cinzas vulcânicas, areia grossa, fragmentos de rocha e pó fino — resultado de sucessivas erupções ao longo dos séculos. O solo, de acordo com geólogos, é semelhante a uma areia fofa misturada a pedras de tamanhos variados, especialmente perigoso nas bordas da caldeira do vulcão, onde Juliana caiu.

“Desde o século 19, com as erupções, não deu tempo de formar solos estáveis, e essa sucessão de explosões desestabiliza muito o solo, tornando as trilhas instáveis. O solo é composto por camadas de cinza vulcânica e rocha pulverizada, que se fragmentam em diferentes tamanhos, desde um pó fino até grãos arenosos e pedras” explica Renato Ramos, geólogo do Museu Nacional.

A instabilidade não é o único desafio. Com 3.700 metros de altitude, o Rinjani impõe ainda condições extremas de clima, inclinação íngreme e, frequentemente, nevoeiro. Isso torna a trilha arriscada não só para turistas, mas até mesmo para equipes de resgate, segundo o especialista.

Um vídeo gravado por Lucas Vencio, que percorreu a trilha em novembro passado, revela a dificuldade do percurso. No registro, o solo cede sob os pés com facilidade, exigindo o uso constante de bastões de apoio.

“É uma trilha que exige muito. No meu caso, foram dois dias intensos de subida e descida em um frio de -5 °C lá no topo.” relatou Vencio.

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A cratera do Rinjani tem aproximadamente 8 quilômetros de extensão. Quando ocorrem chuvas, o risco de deslizamentos aumenta com a formação de lama vulcânica, o chamado lahar , que escorre com velocidade montanha abaixo e provoca erosão, criando encostas íngremes e escarpas perigosas.

A geóloga e cientista planetária Rosaly Lopes, da NASA, reforça que vulcões como o Rinjani, de tipo explosivo, produzem grande quantidade de cinzas, o que torna o solo particularmente arenoso, escorregadio e inclinado.

“Os vulcões são diferentes entre si. No vulcão do tipo explosivo, como o Rinjani, são criadas muitas cinzas, o terreno fica muito arenoso e muito escorregadio, além de ser muito íngreme.” afirmou Lopes.

A Indonésia abriga mais de 100 vulcões ativos, além de outros mil inativos, devido à sua posição no chamado Cinturão de Fogo do Pacífico, região onde se concentram muitos terremotos e atividades vulcânicas do planeta.

O acidente ocorreu durante uma expedição ao cume do Rinjani, conduzida por um guia local. Segundo a família, Juliana teria se sentido exausta e parado para descansar. O grupo seguiu adiante, e ela acabou sozinha. Em seguida, caiu em um desfiladeiro de aproximadamente 500 metros.

A tragédia evidencia os riscos das trilhas em vulcões ativos e a importância de entender as condições geológicas desses ambientes extremos. Mesmo com a beleza que atrai centenas de turistas diariamente, o Monte Rinjani carrega perigos silenciosos em seu solo instável.

Sobre o Autor

VANESSA B

Escreve de tudo um pouco: notícias do dia, curiosidades, ciências... basta ter um bom café pra animar a prosa.