A intensificação da repressão contra pessoas LGBTQIA+ na Rússia tem atingido níveis alarmantes, refletindo uma política de Estado que associa diversidade sexual à ameaça à ordem pública.
O caso de Andrei Kotov, empresário do ramo de turismo, exemplifica o grau de violência e arbitrariedade com que essas ações vêm sendo conduzidas. Proprietário de uma agência que oferecia passeios voltados exclusivamente para homens, Kotov tornou-se alvo de investigações sob a acusação de promover “atividades extremistas”.
Após ser detido e submetido a agressões físicas, foi coagido a assinar uma confissão. Semanas depois, foi encontrado morto em sua cela, levantando sérias dúvidas sobre as circunstâncias de sua morte, oficialmente atribuída a suicídio, mas questionada por sua defesa e familiares.
O episódio ocorreu num contexto de endurecimento das políticas anti-LGBTQIA+ no país, impulsionado pelo governo de Vladimir Putin. Em novembro de 2023, a Suprema Corte russa classificou o movimento LGBTQIA+ como uma organização extremista, igualando-o a grupos terroristas.
Desde então, pessoas associadas ao ativismo, frequentadores de casas noturnas e até cidadãos comuns passaram a ser alvos de batidas policiais, prisões arbitrárias e processos judiciais. Segundo o grupo OVD-Info, pelo menos uma dúzia de inquéritos foram abertos este ano com base nessas acusações.
Esse movimento repressivo vem acompanhado de uma intensa campanha midiática estatal que promove “valores familiares tradicionais”, ao mesmo tempo em que vilaniza a diversidade sexual.
A mídia e grupos nacionalistas têm divulgado ações policiais e campanhas de denúncia contra espaços de convivência da comunidade LGBTQIA+, como boates e festas, frequentemente culminando em multas e processos criminais.
Além disso, medidas legislativas específicas têm contribuído para restringir direitos fundamentais. Desde 2013, a chamada “lei da propaganda gay” vem ampliando sua abrangência, proibindo qualquer manifestação pública considerada como positiva à diversidade sexual.
Em 2023, foi sancionada uma lei que veta cuidados médicos e reconhecimento legal para pessoas transgênero, o que aprofundou o isolamento desse grupo e agravou sua vulnerabilidade.
A repressão tem impulsionado um êxodo significativo de pessoas LGBTQIA+ da Rússia. No entanto, nem todos desejam ou conseguem deixar o país. Muitos, como Tahir, um jovem gay de 25 anos, optam por permanecer e resistir, mesmo diante das ameaças.
Para ele, a Rússia pertence a todos, independentemente de sua orientação sexual, e sua permanência representa um ato de resistência frente à onda conservadora que varre o país. O cenário russo atual revela não apenas uma política de exclusão, mas uma tentativa sistemática de apagar a presença LGBTQIA+ do espaço público.
A tragédia de Kotov e os relatos crescentes de perseguição evidenciam o quanto essa repressão tem deixado cicatrizes profundas, comprometendo direitos humanos e liberdades básicas em nome de uma visão autoritária de moral e identidade nacional.