O anúncio da escolha de Robert Francis Prevost como o novo papa gerou intensa movimentação nas redes sociais, especialmente entre grupos religiosos e teóricos da conspiração.
A nomeação reacendeu velhas discussões envolvendo o livro do Apocalipse, parte do Novo Testamento, frequentemente interpretado como uma fonte de previsões sobre o fim dos tempos.
Esse texto, escrito por João no século I, é conhecido por sua linguagem simbólica e alegórica, contendo figuras como bestas, dragões e números enigmáticos, como o famoso 666, atribuído ao que muitos chamam de “número da besta”.
No capítulo 13, o Apocalipse descreve duas entidades poderosas: uma emergindo do mar com aparência híbrida de leopardo, urso e leão, e outra surgindo da terra, com poderes religiosos. Veja um dos trechos:
“E a besta que vi era semelhante ao leopardo, e os seus pés como os de urso, e a sua boca como a boca de leão; e o dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono, e grande poderio. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é 666”.
A combinação dessas duas figuras tem sido tradicionalmente usada por algumas vertentes religiosas como base para identificar o surgimento do “anticristo” e de um falso profeta.
Esses elementos alimentam interpretações apocalípticas ao longo dos séculos, com destaque durante períodos de crise ou grandes mudanças no cenário religioso.
Em épocas anteriores, especialmente após a Reforma Protestante, o papa já foi associado ao papel do anticristo em algumas interpretações.
A recente eleição de Prevost reacendeu esse tipo de associação, principalmente porque ele escolheu o nome de Leão XIV, imediatamente após o último pontífice com o nome Leão ter sido o 13º, o mesmo número do capítulo que fala das bestas.
Nas redes sociais, essa coincidência foi rapidamente associada à simbologia do Apocalipse, inclusive ao trecho que menciona uma “boca de leão”, reforçando a crença de que tais eventos seriam sinais do fim dos tempos.
Entretanto, estudiosos da religião alertam para os perigos dessas interpretações conspiratórias. O texto bíblico é considerado, por especialistas, uma crítica ao domínio romano, especialmente ao imperador Nero, e não uma previsão literal do futuro.
O uso repetitivo dessas narrativas como forma de identificar desastres ou mudanças sociais reflete mais um fenômeno cultural do que uma realidade teológica, apontando para a necessidade de maior discernimento diante de leituras sensacionalistas.