Diante dos desafios econômicos e do custo elevado de criar um filho, muitos brasileiros têm adiado ou até mesmo descartado a ideia da maternidade e paternidade. Em vez disso, optam por uma alternativa afetiva que cresce a cada ano: adotar animais de estimação.
Dados divulgados pela Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) e pelo Instituto Pet Brasil mostram que o país atingiu, em 2024, a marca de 164,6 milhões de pets. Isso representa um crescimento de 2,36% em relação a 2023.
Cães continuam liderando a preferência dos lares brasileiros, com 62,2 milhões de indivíduos. Mas os gatos vêm logo atrás, registrando um aumento expressivo de 4,5%, saltando de 30,8 milhões para 32,2 milhões. A população de aves ornamentais também é significativa, somando 42,8 milhões.
A economista Jéssica Faciroli, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), avalia que há uma relação direta entre o aumento da população pet e os obstáculos financeiros enfrentados por quem deseja ter filhos. Segundo ela, estudos já demonstram que “muitas pessoas têm adiado ou mesmo desistido de ter filhos e optado por outras formas de construção afetiva familiar”.
Faciroli destaca que os animais têm assumido um papel cada vez mais emocional na vida das pessoas. “Os animais de estimação passaram a ocupar um espaço emocional antes reservado exclusivamente aos filhos, formando o que chamam de ‘família multiespécie’”, explica.
Ela ressalta ainda que casais sem filhos, com frequência, tratam seus pets como membros integrais da família. Outro fator que contribui para essa mudança é o foco crescente das mulheres em suas carreiras.
Criar um filho, de fato, exige uma estrutura complexa. Faciroli explica que os custos vão muito além do comum, que é elevado no Brasil e inclui despesas básicas e de longo prazo.
Segundo estudo do Dieese, para cobrir dignamente todas as necessidades de um brasileiro, o salário mínimo ideal deveria ser de R$ 7.528,56, quase cinco vezes mais que os R$ 1.518 atuais.
Enquanto isso, a indústria pet continua em expansão. Profissões como a de médico veterinário estão em alta, impulsionadas pelo aumento da demanda por cuidados especializados para os animais.
Yasmim Piffer, de 27 anos, estudante de veterinária com três anos de experiência em clínicas, observa essa mudança de comportamento. Ela acrescenta que o número de pets atendidos nas clínicas cresceu, assim como a busca por planos de saúde para eles.
Juliana Lopes, veterinária de 28 anos, também nota essa transformação. Para ela, o estilo de vida dos jovens contribui para a escolha por pets, pois a vida hoje é muito corrida e dinâmica. Porém, Juliana alerta que a adoção de um animal exige preparo e comprometimento.