Doenças raras frequentemente desafiam não apenas os limites da medicina, mas também a força emocional e física dos pacientes e seus familiares. Em muitos casos, o diagnóstico tardio, a escassez de especialistas e a falta de recursos tornam a luta contra essas enfermidades ainda mais árdua.
Um exemplo comovente dessa realidade foi vivido por Yasmin da Silva Cândido, jovem que travou uma batalha corajosa contra a acalasia, uma condição grave e incomum que afeta o funcionamento do esôfago.
Aos 22 anos, Yasmin faleceu na sexta-feira, 2 de maio, e será sepultada neste sábado (3), no Cemitério Colina da Saudade, na cidade de Viçosa, localizada no interior do estado de Minas Gerais.
Com apenas 27 quilos, a jovem enfrentava as consequências mais severas da acalasia, que havia sido diagnosticada em 2020. Essa doença, que dificulta a passagem de alimentos do esôfago para o estômago, comprometeu drasticamente sua nutrição, levando a uma perda de peso acentuada e contínua.
A trajetória de Yasmin mobilizou familiares e amigos, que arrecadaram cerca de R$ 22 mil para viabilizar uma cirurgia realizada em um centro médico de referência em Recife.
O procedimento foi necessário após o agravamento dos sintomas e a ineficácia do tratamento inicial com dilatação pneumática, técnica que envolve a introdução de um balão para tentar forçar a passagem no esôfago.
Em entrevista concedida no final de 2024, ela relatou os primeiros sinais da doença, como engasgos durante o sono, o que levou à descoberta da condição por meio de exames realizados em Belo Horizonte, cidade vizinha com mais estrutura médica.
Com o avanço do quadro clínico, Yasmin passou por momentos críticos. Em maio de 2024, seu intestino deixou de funcionar, exigindo uma cirurgia de emergência e o uso de bolsa de colostomia.
A rápida deterioração do seu estado de saúde provocou a perda de 16 quilos em aproximadamente seis meses, comprometendo ainda mais sua capacidade de recuperação.
Existe a suspeita de que a acalasia de Yasmin tenha sido consequência da Doença de Chagas, provocada pelo parasita Trypanosoma cruzi, comum em algumas regiões do Brasil e transmitido por insetos conhecidos como barbeiros.
Estudos estimam que a acalasia afete entre 1 e 2 pessoas a cada 100 mil, o que a torna uma condição rara e muitas vezes negligenciada nos sistemas públicos de saúde.
A história de Yasmin deixa uma mensagem de resiliência, mas também alerta para a importância do diagnóstico precoce e do acesso a tratamentos adequados para doenças pouco conhecidas.
Seu legado ecoa como um chamado à conscientização, à empatia e à necessidade de políticas públicas mais inclusivas voltadas para pacientes com enfermidades raras.