Dois anos após sua partida, Rita Lee segue sendo um ícone insubstituível na memória afetiva da música brasileira. A figura iconica da mulher roqueira que quebrou tabus e enfrentou com inteligência os desafios impostos a ela.
Conhecida por seu estilo irreverente, criatividade sem limites e ativismo, a cantora teve sua trajetória relembrada de forma tocante no documentário Mania de Você, lançado na plataforma Max na última quinta-feira, 8 de maio.
O material trouxe à tona uma carta inédita, escrita por Rita poucas semanas antes de sua morte em 2023, decorrente de complicações de um câncer de pulmão. Nesse documento, a artista revelou, com delicadeza e profundidade, sentimentos reservados à sua família, especialmente ao marido e aos três filhos.
A carta é uma confissão íntima, escrita no estilo direto e emocional que sempre caracterizou Rita. Logo nas primeiras linhas, ela admite que sua melhor forma de expressão era através da escrita e se dirige com afeto aos “quatro cavalheiros” que marcaram sua vida: Roberto de Carvalho, seu companheiro de mais de quatro décadas, e os filhos Beto, Juca e Tui.
Em um tom emocionado, a cantora expressa gratidão por se sentir completa e amada ao lado dos homens de sua vida. Para o marido, Roberto, Rita não poupou declarações sinceras.
Chamando-o de “namorado mais fofo”, reconheceu sua força e paciência em lidar com sua personalidade intensa, sua trajetória polêmica e seu jeito autêntico de viver.
Já para os filhos, ela reservou palavras individuais e personalizadas, revelando a profundidade da relação com cada um. A Beto, o mais velho, agradeceu por ter sido seu amparo em momentos de fragilidade.
A Juca, exaltou a sensibilidade e o espírito justo, traços que refletiam a conexão entre ambos, especialmente no amor pelos animais. Para Tui, o caçula, elogiou a personalidade solar, a independência precoce e a sabedoria nas conversas. A carta foi finalizada com um agradecimento maternal, marcado pela fé e pelo amor que transcende a vida.
“Amados do meu coração, eu queria saber falar bonito para cada um de vocês o que sinto no fundo do meu coração, mas me expresso melhor escrevendo sobre o orgulho e a sorte que tenho em estar rodeada por quatro cavalheiros que me fazem perceber que sou a mulher mais completa do mundo”, diz um trecho da carta.
Rita Lee construiu uma carreira que atravessou gerações, primeiro com Os Mutantes, depois ao lado da banda Tutti-Frutti, e, posteriormente, em sua fase solo, marcada pela parceria criativa e amorosa com Roberto de Carvalho, iniciada em 1979.
Sua obra é repleta de canções que traduzem irreverência, crítica social e empoderamento feminino, sempre com letras afiadas e criativas. Além da música, ela também se destacou como escritora, apresentadora e defensora fervorosa dos direitos dos animais, sendo vegana e engajada em causas ambientais.
A carta inédita de Rita não apenas oferece um retrato sensível de seus últimos dias, mas também reforça o legado humano de uma artista que, mesmo diante da morte, encontrou beleza nas palavras e deixou para os seus — e para o público — uma última canção de amor, escrita com o coração.
